sexta-feira, 25 de junho de 2010

Caras-pintadas foi o nome dado aos jovens e estudantes que, em agosto e setembro de 1992, pintaram o rosto de verde e amarelo e organizaram passeatas pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. O primeiro presidente eleito pelo voto direto desde 1961 --quando Jânio Quadros saiu vencedor das urnas-- foi acusado pelo próprio irmão, Pedro Collor de Melo, de cumplicidade com seu tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, acusado de cometer crimes como enriquecimento ilícito, evasão de divisas e tráfico de influência.

As denúncias, que se intensificaram por todo o mês de maio, culminaram com a formação do Movimento pela Ética na Política, composto por 18 entidades civis, como centrais sindicais, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
18.set.92/Folha Imagem
Estudantes saíram às ruas em 1992 paea pedir o impeachment de Fernando Collor
Estudantes saíram às ruas em 1992 para pedir o impeachment de Fernando Collor

No dia 29 de maio daquele ano, o movimento organizou um fórum pelo afastamento de Collor que contou com a participação de mais entidades, como partidos políticos e a UNE (União Nacional dos Estudantes).

A pressão da sociedade obrigou a instalação de uma CPI no dia 1º de junho de 1992, cujo início foi marcado pelo depoimento de Pedro Collor --no dia 4 daquele mês.

Com o avanço das investigações e com as declarações favoráveis ao afastamento do presidente --como as do então presidente do PT Luiz Inácio Lula da Silva-- sendo amplamente cobertas pela mídia, parcela de jovens da classe média se mobilizou.

A juventude começou a tomar as ruas em agosto. A primeira manifestação aconteceu no dia 11, em uma passeata marcada em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) que reuniu cerca de 10 mil pessoas.

"A gente saiu do museu, pegou a avenida Paulista, desceu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio e terminou em frente à faculdade de direito da USP (Universidade de São Paulo), no Largo São Francisco", diz o prefeito de Nova Iguaçu Lindberg Farias (PT-RJ), que na época era o presidente da UNE.

Tanto aquela como as demais passeatas foram marcadas pela irreverência, diversidade política e apartidarismo. "Os estudantes faziam questão de rechaçar a participação de partidos políticos", afirma a historiadora Maria Aparecida de Aquino, professora da USP. "Era um sinal claro de que os partidos não davam conta das reivindicações."
05.out.07/Folha Imagem
Cecília Lotufo, ex-musa dos cara-pintadas, hoje aos 33 anos: "conquista de todo nós"
Cecília Lotufo, ex-musa dos cara-pintadas, hoje aos 33 anos: "conquista de todo nós"

No dia 14, Collor foi à televisão para convocar a população a vestir verde e amarelo e a sair pelas ruas no domingo, 16, em resposta aos que o atacavam. Mas aquele dia ficou conhecido como "domingo negro" --os jovens saíram às ruas vestindo roupas negras e pintando o rosto da mesma cor em sinal de luto contra a corrupção.

Em Salvador (BA), cerca de 20 mil estudantes também se vestiram de negro e pintaram o rosto de verde e amarelo. Mas as manifestações se avolumaram a partir do dia 25 de agosto, quando o Movimento pela Ética na Política pediu por mais manifestações públicas.

Naquela mesma manhã, 400 mil estudantes com os rostos pintados voltaram ao Masp, mas dessa vez seguiram para o Vale do Anhangabaú. "As passeatas começavam entre 11h e meio-dia. Os estudantes que ainda estavam em aula, pulavam os muros para acompanhar a passeata", afirma Lindberg.

Em Salvador, 80 mil pessoas participaram de uma passeata gritando "fora Collor", enquanto outras 100 mil faziam o mesmo em Recife. No dia seguinte, em Brasília, 60 mil pessoas aguardavam a aprovação do relatório da CPI feito pelo senador Amir Lando (PMDB-RO), que recomendava a abertura de impeachment.

O relatório foi aprovado por 16 votos a cinco. O passo seguinte foi a formulação do pedido de impeachment, que foi entregue na Câmara no dia 1º de setembro.
Eraldo Peres/AP
O ex-presidente Fernando Collor está de volta, agora como senador por Alagoas
O ex-presidente Fernando Collor está de volta, agora como senador por Alagoas

Era mais um motivo para que os caras-pintadas continuassem pelas ruas do país. A principal manifestação foi novamente em São Paulo, agora no dia 18 de setembro. Cerca de 750 mil pessoas ficaram até as 21 horas no Vale do Anhangabaú.

Finalmente, no dia 29, a Câmara dos deputados vota a abertura do impeachment. Em transmissão ao vivo, 448 deputados votaram a favor, 38 contra, 23 não foram à sessão e um se absteve. "Eu estava no Anhangabaú pra assistir a votação no telão", lembra a musa dos caras-pitadas, Cecília Lotufo. "A cada voto, era um abraço com desconhecidos. No final começou um temporal, mas ninguém ligou para a chuva: era uma conquista de todo nós."

Com o processo de impeachment aberto no Senado no dia 2 de outubro, Collor deixou a presidência interinamente. Mas no dia 29 de dezembro de 1992 ele renunciou abrindo espaço para seu vice, Itamar Franco. Apesar da renúncia, o Senado prosseguiu com o processo, que lhe tirou o cargo e o deixou inelegível por oito anos.

Aquela passeata foi comparada pela imprensa ao movimento estudantil de 1968. "A Rede Globo estava passando a minissérie 'Anos Rebeldes', do Gilberto Braga, que falava sobre o papel dos estudantes contra a ditadura", lembra Lindberg. "Em nossa primeira passeata, a gente colou um cartaz que dizia 'Anos Rebeldes, Próximo Capítulo'."

Para a historiadora, os momentos eram muito distintos. "Na década de 1960, os protestos eram pela mudança do regime político do país. Já os caras-pintadas só queriam a queda do presidente", diz. "É um movimento que se extinguiu em si mesmo depois de atingir seu objetivo."

Por Wanderley Preite Sobradinho
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u397259.shtml

COMENTÁRIO
Fora um grupo de jovens muito determinados. Eles nos mostraram que é pela organização, e sem agressões físicas que podemos obter o resultado que almejamos. Eles realmente fizeram história em nossa pátria, conseguindo o impeachment do ex-presiente Collor. Os Caras Pintadas são exemplos de como qualquer cidadão deve se portar diante de suas revoltas, e que com muita garra e determinação podemos sim, melhorar o Brasil que vivemos.

2 comentários:

Naty disse...

Eles protestaram em frente ao hospital onde a mãe do Collor tava internada. Vaiaram Collor quando ele veio ver ela e aplaudiram o irmão Pedro o delator. Só isso já é uma falta de educação sem tamanho desses playboyzinhos.

Naty disse...

Eles fizeram protesto na frente do hospital onde a mãe do Collor tava internada. Que tipo de pessoas fazem protesto em frente a hospitais??? Depois vaiaram Collor e aplaudiram o irmão Pedro o delator. Aff. Bando de playboys revoltados porque ficaram se mesada.

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